Percebam como é fácil vender uma idéia pela metade na TV !
No final da noite do dia 30, contudo, surgiram as notícias de que há uma série de limitações no serviço que será oferecido nessa condição. As letras miúdas do termo de compromisso revelaram que o anúncio feito horas antes poderia ser caracterizado como propaganda enganosa. Se, por um lado, é muito positivo que famílias com menos recursos financeiros tenham condições mais favoráveis para acessar o serviço, por outro é muito ruim que para elas reste uma internet de segunda categoria.
Claramente havia opções melhores. O governo poderia determinar que a banda larga fosse tratada como um serviço público – como são água, luz etc. Seriam estabelecidas metas de universalização, a tarifa seria controlada e a continuidade do serviço seria garantida. Porém, o governo preferiu a opção que não exigia planejamento a longo prazo e que era mais confortável para as empresas. A banda larga segue sendo um serviço prestado em regime privado, onde não há obrigações de universalização, os preços são livres e não há obrigações de continuidade. Melhor para as empresas, pior para os cidadãos.
Limites
Os limites do pacote negociado com as teles evidenciam as poucas garantias dadas ao usuário no regime privado. O pacote de 1 Mbps a 35 reais por mês será oferecido em tecnologia fixa ou móvel, dependendo da disponibilidade, e atingirá todos os municípios que tem rede de telefonia fixa até 2014. Contudo, foram determinadas as seguintes limitações nesses pacotes:
•franquia de download – os usuários terão franquias crescentes (para a Telefônica, elas começam em 300 Mb por mês na rede fixa e 150 Mb na rede móvel; para a Oi, começam em 600 Mb). Até 2014, esse valor chegará a 1 Gb e 500 Mb. Concretamente, 1 Gb equivale a menos de um filme baixado por mês. Após o uso dessa franquia, a operadora poderá reduzir temporariamente a velocidade do serviço. Esse limite condiciona completamente o uso da internet e impede o uso pleno do serviço;
•Limite de velocidade de upload – até 128 kbps – é apenas duas vezes a velocidade de uma conexão em linha discada e na prática vai dificultar que o usuário publique fotos, vídeos etc.;
•venda casada – embora o ministro tenha afirmado que o pacote de 35 reais não estaria condicionado à venda casada, o termo de compromisso permite essa prática na banda larga fixa, com teto de 65 reais para o pacote. O pacote de 35 reais sem venda casada só é obrigatório na banda larga móvel.
É lamentável que o anúncio público do acordo tenha sido feito sem nenhuma referência a essas limitações, e que tenham sido utilizadas comparações com preços médios atuais (cerca de R$ 70, segundo o ministro) sem levar em conta que os pacotes medidos não têm limites de utilização. Pior ainda foi a negação, durante a coletiva, de que o pacote popular estaria atrelado a qualquer tipo de venda casada. Como explicado acima, a prática, proibida pelo Código de Defesa de Consumidor, é liberada para a banda larga fixa.
Além disso, na prática, os 1 Mbps negociados serão diminuídos tão logo o consumidor atinja os baixos limites previstos. Mais do que isso, a velocidade efetivamente entregue pela empresa já pode ser, de cara, bem mais baixa em comparação à anunciada, afetando a qualidade do serviço.
Qualidade e formas de sanção
Esta questão da qualidade, sobre a qual a campanha Banda larga é um direito seu! vinha expressando preocupação, demorou bastante para entrar na pauta das negociações e terminou descoberta. As definições ficaram para os regulamentos de qualidade da banda larga fixa e móvel, a serem definidos pela Anatel até outubro. Por um lado, essa decisão poderá garantir que essas referências valham para todos os serviços (não apenas os das operadoras que entraram no acordo), mas por outro deixa incertezas sobre os parâmetros que serão utilizados e em que prazo serão adotados.
Também inaceitável é a questão das sanções, que podem ser transformadas em investimentos em áreas economicamente não atrativas. Na prática, as empresas podem trocar o não cumprimento de metas determinadas no termo de compromisso por expansão de sua própria rede. Essa é mais uma evidência da impossibilidade de se garantir políticas públicas deste porte por meio do frágil instrumento do termo de compromisso.
Em meio a esses aspectos negativos, restou um aspecto positivo, que foi objeto de reivindicação da campanha Banda Larga é um direito seu!: o governo mudou a indicação da Anatel que previa, no PGMU-III, a possibilidade de as empresas descontarem do ônus que pagam pela concessão os custos que não fossem economicamente retornáveis para atingir as metas de universalização da telefonia fixa. Se mantida, ficaria aberta a possibilidade de recursos públicos custearem a expansão privada.
Outro aspecto que poderia ser considerado positivo é o fato de a faixa de 450-470-Mhz não ter sido entregue às operadoras sem licitação e sem ônus. Contudo, a última versão do PGMU-III condiciona o cumprimento de metas da telefonia rural à licitação dessa faixa, e portanto isenta as teles de obrigações se esse processo não avançar. Assim, as metas relacionadas às áreas rurais ficam dependentes de um processo incerto.
Limites evidentes
O acordo, acima de tudo, revela os limites da negociação no regime privado. Se adotado o regime público – opção descartada pelo governo – seriam impostas às empresas privadas metas de universalização constantemente atualizadas e controle permanente de tarifas para a banda larga, e haveria instrumentos regulares de acompanhamento e cobrança. Assim, o acesso das classes mais baixas ao serviço, que começa limitado e discriminatório, poderia ser de fato ampliado em condições bem melhores.
O resultado obtido é expressão de um processo precário, dependente de instrumentos frágeis, com ajustes sendo feitos ainda enquanto os resultados eram anunciados. A negociação deste acordo foi feita tendo as empresas praticamente como as únicas interlocutoras. A sociedade civil foi ouvida oficialmente apenas uma vez, e não foi chamada a opinar sobre nenhuma das questões que se concretizaram no termo de compromisso. Este documento, aliás, ainda não foi tornado público. O processo desconsiderou as resoluções da I Conferência Nacional de Comunicação, e o Fórum Brasil Conectado, que agrupava os diversos setores envolvidos e interessados no tema, não foi convocado uma única vez este ano.
Embora a negociação recém-encerrada condicione muito do que poderá ser feito nos próximos anos, a campanha Banda Larga é um direito seu! seguirá lutando por uma banda larga barata, de qualidade e para todos. Para nós, a universalização do serviço é uma meta que deve continuar sendo perseguida. Ela passa pela adoção do regime público, pelo fortalecimento da Telebrás, e pela garantia de parâmetros que deem a todo cidadão condições de acesso pleno a internet, independentemente do lugar onde vive ou de sua condição socio-econômica.
PARA SABER MAIS SOBRE A CAMPANHA ACESSEM : http://www.campanhabandalarga.org.br/
Vocês falam como se o PNBL traçado no governo Lula fosse muito diferente do que está sendo efetivado agora. PNBL e Inclusão Digital são água e óleo desde o início. O backbone traçado lá atrás em sua projeção mais ideal, (que contou com a participação da dita "sociedade civil", em fóruns, seminários, e afins) passará apenas pelos corredores mais desenvolvidos do Brasil. O corredor da miséria sempre esteve fora desse traçado. Viabilizar conectividade para essas áreas é papel do Estado, e ele já vem fazendo isso através do GESAC, hoje, ainda, a única alternativa viável para áreas de floresta, de fronteira, focos do semi-arido, e etc...A velocidade é baixa, é. Mas o que importa nesse momento, nesses lugares, não é velocidade pra baixar filmes, o participar de redes sociais ou coisa que o valha, mas sim garantir a ampliação da rede de proteção social do governo, que hoje depende de conectividade. O Brasi não se resume mais ao eixo Rio-São Paulo, felizmente.
ResponderExcluirPerfeito José...só quero fazer algumas colocações...O PNBL do Lula realmente deixou muitas coisas em aberto, mas tinham premissas onde a universalização e a telebras como carro chefe na construção de redes publicas eram mais evidentes, além de ser tb uma protagonista para a universlização da internet. Oque ocorre hoje é que a Telebrás está fora deste contexto, apesar de algumas promessas, todo o PNBL foi redirecionado para o mercado e a banda larga tende a continuar como um serviço privado, ou seja, sem garantia nenhuma (leia-se que os termos de compromisso não tem validade sobre os contratos de concessão, pois, são conflitantes) e outro detalhe é que toda a infra de banda larga construida continuará sem reversibilidade para a união no fom das concessões, ou seja, morte a soberania nacional...acreditar que o mercado irá levar internet onde não há interesse comercial e ter prejuizo é inconcebivel no ponto de vista até mesmo de suas finalidades, que é o lucro, ou seja, alguém terá que pagar a conta e com isso o subsidio direto é inevitável...oque quer dizer subsidio direto para um serviço regido em regime privado ? é dinheiro público para compra de infra estrutura privada, melhor, é o nosso dinheiro indo para empresas que irão usufruir dele em prol de seus interesses lucrativos...ahhh mas esta é a troca...o governo dá dinheiro e as teles levam internet para todos....Legal...vc acha que na coisa privada alguem mexe ? Vc acha que eles não irão usar de seus poderes sobre esta infra para sempre negocior oque for melhor apra os interesses da empresa e de seus acionistas? Melhor, vc acha que quando terminar os contrato em 2025, o país irá ficar refem de um monopólio e terá que sentar no colo das teles ? Estas são perguntas que fazemos quando se trata da banda larga em regime publico...e o PNBL, por ser uma política pública morreu por conta dos acordos que o Sinistro Paulo Bernardo fez e com aval da Dilma..Mas vamos em frente José e exigirmos o justo, afinal o dinheiro é de todos nós..certo ? Abs.
ResponderExcluirEu estava sem poder acessar a internet por um bom tempo, por causa do sinal, mas agora voltou a funcionar direitinho.
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